quarta-feira, 7 de abril de 2010

Você é fashion? -por Polyanna Galli

Segue aqui um texto super interessante que foi publicado no site Canal Comum, escrito pela querida da Pollyana Galli publicitária que leciona nas áreas de Criação, Planejamento, Branding e Fundamentos de Design de Moda. Essa coluna  que ela escreve é sobre moda e quinzenal. Achei o primeiro texto tão interessante que resolvi compartilhar com vocês. Vamos lá?


Você é fashion?
É preciso estudar a moda. Isso mesmo, estudar. Fácil é não levar esse assunto à sério. Sinto pena quando pessoas fazem as tais perguntas: O que se tanto estuda nos cursos de moda? Aprende-se a costurar? Aprende-se a se vestir melhor?

Parece mais fácil relegar a moda ao campo do supérfulo. Será mesmo que é tão difícil de enxergar o vasto campo que envolve essa área? Não é obviu que envolva, entre outras, a economia, antropologia e sociologia? Parece que só assim a moda ganha mais dignidade e credibilidade.

Enfim, isso acontece porque a vemos por uma máquina. Máquina essa que tem para esse assunto, ainda, poucas lentes. A mídia. Conhecemos a moda através das lentes que ela possui, que não nos permite ver além do estético no prisma do certo e errado, bonito e feio, etc. Bom, isso de forma geral e massiva.



É só variar a lente e então, é possível enxergar com mais clareza e maior extensão. A vestimenta tem história tão antiga quanto o próprio homem, o seu processo passou do puramente manual e oficinal para o industrial. É nessrário criação e planejamento, envolve trabalho intelectual e promove a idéia básica de mercado - demanda e oferta.

Mas mesmo assim é mais fácil olhar pela lente viciada e ver o produto final, que é a roupa, e por ela fazer os julgamentos tradicionais do que é massificado. Pela roupa podemos classificar o que é válido ou não. A roupa tornou-se mecanismo dos esteriótipos. Com a pergunta ou a sentença do é fashion. Assim mesmo, no inglês. Fica mais bonito. É fashion.

Essas muitas facetas é que dão margem aos estudos, ao entendimento de um processo social de consumo, de um processo social de construção de identidade. Pois sim, a roupa nos conta sériamente sobre isso.



As teorias em torno da moda começaram a surgir entre o final do século XIX e o começo do XX, era assunto e preocupação primeiro dos artistas e intelectuais que pensavam as dinâmicas da modernidade. Por isso essa eterna urgência. Parece que a moda é sempre vanguarda, mesmo quando é vintage. É desse período, por exemplo, os primeiros pensamentos sobre a moda no mundo capitalista e industrializado, a teoria da distinção social – vista como canal de ostentação do poder econômico das elites. Ainda hoje a moda é utlizada como prisma para o entendimento das bordas sociais.

No entanto a moda precisa de movimento, de circulação. Ela até pode começar em um pequeno grupo, hoje os nichos, mas precisa do movimento para tornar-se legítima. É na rua que ela existe. Na rua vai do luxo ao lixo. E é nesse ponto o interesse dos intelectuais. O tanto de informação que a moda carrega, do consumo de bens ao consumo do simbólico.



A importância social e econômica desse setor firmou-se no século XX e segue no XXI. Nas palavras de Diane Crane, “reconstruir as mudanças na natureza da moda e nos critérios que orientam as escolhas de vestuário é um modo de entender as diferenças entre o tipo de sociedade que está lentamente emergindo”, e esse movimento é continuo e aparentemente cíclico.

É desse movimento que a indústria se alimenta para oferecer produtos de moda que personificam os ideiais e valores de uma época e que espelham através das escolhas desses vestuários, os diversos grupos sociais e também os segmentos que têm em comum hábitos. É assim que usamos a moda como equivalente aos valores dominantes de uma época. Moda é ao mesmo tempo atemporal e temporal.

Essa indústria, pela sua natureza, tem um compromisso com o a economia. Desde o primórdio da industrialização, quando a fabricação de tecidos de algodão saltou 5.000% em 70 anos no século XIX, até a atualidade onde não só a produção dos fios, a fabricação de tecidos - que envolve alta tecnologia - a criação de máquinário, para substituir e/ou facilitar o ainda trabalho manual, o feitio em si e a distrubuição cobrem áreas de interesse e desenvolvimento no século XXI. É possível então vislumbrar um sem fim de efeitos econômicos à movimentação desse gigante. Isso sem mensionar todo o marketing da coisa - essa também uma indústria que usa um máquinário pesado, da simbologia à mídia.

O campo do simbólico tem muitas vertentes, começando pelo design, ferramenta essa de criação. O homem tem vocação para o design. No sentido que o homem produz à luz de suas necessidades, e dá sentido às suas criações as envolvendo em contextos simbólicos. Assim essas criações se legitimam como verdade de uma semiose que homem faz entre si e a natureza.




Enfim, esse é um vislumbre do que essa coluna intenta. Abordar as diversas facetas do estudo da moda. A partir de indagações das mais simples às mais complexas, promover o pensamento. Porque pra mim, moda é pensar. Porque pensar é fashion. E você, você é fashion?


Polyanna Galli
 para ler mais em Canal Comum

2 comentários:

  1. testo maravilhoso, engraçago estava agora a pouco em uma mesa de bar elogiando a Polyanna Galli, perfeito!

    Igor leite

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